sábado, 9 de janeiro de 2016

Mentes não treinadas necessitam das práticas


LIÇÃO 9

Eu não vejo nada tal como é agora.

1. Esta ideia, obviamente, resulta das duas anteriores. Mas, embora possas ser capaz de aceitá-la intelectualmente, é improvável que ela signifique alguma coisa para ti por enquanto. Contudo, neste ponto a compreensão não é necessária. De fato, o reconhecimento de que não compreendes é um pré-requisito para desfazer tuas ideias falsas. Estes exercícios se ocupam da prática, não da compreensão. Tu não precisas praticar aquilo que já compreendes. Na verdade, visar à compreensão e pressupor que já a tens seria andar em círculos.

2. É difícil para a mente não treinada acreditar que aquilo que ela parece retratar não existe. Esta ideia pode ser bastante assustadora e pode encontrar resistência ativa sob inúmeras formas. No entanto, isso não impede sua aplicação. Não se pede nada mais do que isso para estes exercícios ou quaisquer outros. Cada pequeno passo afastará um pouco as trevas e a compreensão finalmente virá para iluminar cada canto da mente que tenha ficado livre dos escombros que o escureciam.

3. Estes exercícios, para os quais três ou quatro períodos de prática são suficientes, envolvem olhar ao redor de ti e aplicar a ideia do dia a qualquer coisa que vejas, lembrando-te da necessidade de aplicação que não faça distinções e da regra essencial de não excluíres nada. Por exemplo:

Eu não vejo esta máquina de escrever tal como ela é agora.
Eu não vejo este telefone tal como ele é agora.
Eu não vejo este braço tal como ele é agora.

4. Começa com as coisas mais próximas de ti e depois estende o alcance para fora:

Eu não vejo aquele cabide de casacos* tal como ele é agora.
Eu não vejo aquela porta tal como ela é agora.
Eu não vejo aquele rosto tal como ele é agora.

5. Salienta-se mais uma vez que, embora não se deva tentar uma inclusão total, tem-se de evitar qualquer exclusão específica. Certifica-te de que és honesto para contigo mesmo ao fazer esta distinção. Podes ser tentado a escondê-la.

*Nota de Tradução: Vide nota à tradução da lição conforme publicação em 9 de janeiro de 2010. 

*

COMENTÁRIO:

Eis-nos aqui mais uma vez, hoje, prontos para as práticas de mais uma lição. A nona. E quem já está conosco há algum tempo, sabe que nos últimos anos praticamos a partir dos comentários feitos por Tara Singh, em um de seus livros, para as dez primeiras lições.

E é claro que precisamos rever o que ele diz, lembrando que, ao final de seu comentário ele chama a nossa atenção para o fato de que precisamos ser honestos para com nós mesmos, uma responsabilidade que a lição se encarrega de nos dar. Aprenderás a ser honesto para contigo mesmo hoje? Aprenderemos? 

Comecemos por abrir nossos olhos, nossas mentes e corações para a ideia na forma como ela se apresenta:


"Eu não vejo nada tal como é agora."

E a partir daí, Tara Singh nos diz:

Olhamos para todas as coisas por meio de imagens do pensamento, que mantêm o passado vivo. Essas imagens não são reais porque o que é real é real agora mesmo. Preocupadas com pensamentos do passado, nossas mentes alimentam ilusões sem fim. Não estamos no presente. Se estivéssemos no presente - neste momento - não seríamos capazes de dar nome a qualquer coisa. Quando isolamos e damos nome a uma flor, por exemplo, não a vemos. Quando se "vê" alguma coisa no presente, ela nos liga à eternidade.

Uma flor não poderia existir se, por milhões de anos não tivesse chovido, se não houvesse o ar e a luz do sol. Quantas folhas prepararam o solo à volta dela. Uma flor pode nos ligar à própria criação deste planeta. Ele é uma alegre expressão do eterno, da força criativa. Não está limitada pelo tempo.

Mas nós não podemos experimentar a totalidade no presente porque estamos presos no passado. O que poderia ser pior?

Por quantos séculos lutamos para saber disso! Afinal, percebemos que o tempo é uma ilusão. Não o tempo cronológico, mas o tempo psicológico - a ilusão de que amanhã eu vou "conseguir".

Então, como mudamos todos os nossos conceitos? É útil sermos apenas honestos acerca de nossas ilusões. A verdadeira gratidão é realmente a chave. Não precisamos fazer nada.

Neste mundo, lutamos para conseguir um diploma e para achar um meio de sobreviver, por isso pensamos que temos de lutar para nos tornarmos espirituais. É possível que nossa educação nos tenha tornado medíocres, que nossos esforços pela sobrevivência pessoal sejam perversos? Ficamos excitados com nossas, assim chamadas, realizações. Mas que valor têm as realizações, se não conhecemos nossa infinitude? Estamos aqui para abençoar o mundo, não nos estabelecemos para a satisfação de "carências".

Todas as coisas que se referem à personalidade e ao tempo trazem a luta consigo. "Ver" de verdade, ou a clareza, não envolve nenhuma luta porque dissipa a personalidade e nos liberta do tempo. Apresenta-nos a nossa própria eternidade.

Cada uma das lições do Curso oferece a visão verdadeira. Uma frase dá início ao processo e, lá pelo fim da lição, podemos chegar à Expiação e à serenidade. Quando isso não acontece, não a lemos.

O processo começa pela diminuição da autoridade do cérebro sobre nós. Quando pensamos na lição no meio de nossas vidas diárias, nós nos libertamos das pressões do tempo. Tornamo-nos verdadeiramente sensíveis e gratos. Então, a única arte que existe é a arte de viver.


Eu não vejo nada tal como é agora.

Esta ideia, obviamente, resulta das duas anteriores.

Eu vejo só o passado.

e

Minha mente se preocupa com pensamentos do passado.

Como apreendemos, de fato, estas lições? Devíamos estar nos desenvolvendo com cada lição em um processo diário de desfazer. O Curso é uma alegre aventura:


Eu não vejo nada tal como é agora.

Embora possas ser capaz de aceitá-la intelectualmente, é improvável que ela signifique alguma coisa para ti por enquanto. Contudo, neste ponto a compreensão não é necessária. De fato, o reconhecimento de que não compreendes é um pré-requisito para desfazer tuas ideias falsas. Estes exercícios se ocupam da prática, não da compreensão.

Se aprendemos a lição apenas intelectualmente, não somos transformados por ela. É exatamente como na escola - aprendemos de livros e repetimos o que aprendemos num exame. A simples memorização nunca vai além do cérebro.

O auto-conhecimento não é intelectual. Nunca saberemos quem somos enquanto defendermos a intelectualidade e a desonestidade. Reconhecer isto pode vir a transformar nossas vidas! Infelizmente, em lugar de chegar à honestidade, nós nos tornamos evasivos. Justificamos nossas ações ou nos tornamos confusos.

Podemos perceber que intelectualizamos nosso comportamento? Por exemplo, se dizemos que vamos ligar para um amigo e não o fazemos, oferecemos justificativas para não termos ligado. Não percebemos o fato de que não nos importamos.

Todo incidente é um espelho no qual podemos ver a nós mesmos. Se não quisermos desvendar nosso isolamento, egoismo e reações, então não somos honestos. E, para desfazê-los, precisamos ver as coisas como elas são. Caso contrário, a correção não acontece. Negamos a dádiva da lição e desperdiçamos as oportunidades para desfazer quando confiamos na intelectualidade.

Podemos desfazer a aparência da intelectualidade? Temos de treinar nossas mentes para perceber a falsidade de nossas pressuposições e conclusões. A mente pode ser treinada para ser tão incorruptível, tão vigilante, que nada do passado possa penetrar.

Curso diz que a compreensão não é necessária neste ponto. Nosso nível atual de compreensão é apenas intelectual, por isso não nos incomodemos com ele. O Curso dá ênfase à prática, em vez disso. Ele diz, com efeito: "A prática é a porta de entrada. Passa pela porta, não pela janela".

O que está implícito, então, na prática da lição?

Tu não precisas praticar aquilo que já compreendes. Na verdade, visar à compreensão e pressupor que já a tens seria andar em círculos.

É difícil para a mente não treinada acreditar que aquilo que ela parece retratar não existe. Esta ideia pode ser bastante assustadora e pode encontrar resistência ativa sob inúmeras formas. No entanto, isso não impede sua aplicação.

A lição diz que, em razão de nossas mentes não serem treinadas, a prática é necessária. Por isso, a prática tem de ter algo a ver com o treinamento da mente. Nossa prática é, no entanto, apenas uma forma de atividade? Até mesmo admitir que ela é seria enganador, se admissão fosse apenas intelectual. Perceber isto, em si mesmo, é a ação. No instante em que questionas a intelectualidade e o perceber, acontece um milagre. Tu não és mais a mesma pessoa. Só precisamos ser honestos para perceber nossos enganos.

Uma mente que é treinada para sair do pensamento - mesmo que por uma ínfima fração de segundo - declara a existência da consciência. O pensamento não tem nenhum poder na presença da consciência. Se pusermos todo o nosso coração em nossas práticas, o processo de despertar começa. Mas atenção dividida não vai funcionar. É auto-engano.

A vida é mais forte do que a personalidade. Por que razão dotamos a personalidade de tanto poder? Podemos escapar de nossa escravidão a ela e ser gratos. Então, tornamo-nos criativos - o velho morre e o novo nasce.


Cada pequeno passo afastará um pouco as trevas e a compreensão finalmente virá para iluminar cada canto da mente que tenha ficado livre dos escombros que o escureciam.

A consciência não é intelectual; ela desfaz tudo o que nasce do pensamento e do medo. Só nossa visão põe fim à atividade. Honestidade para com nós mesmos é a luz. Não temos nenhuma outra responsabilidade além da de sermos honestos para com nós mesmos. Então, somos uma bênção sobre a terra. 

Às práticas?

2 comentários:

  1. Caro David, caros e caras companheiros e companheiras de jornada, vamos à questão da reencarnação posta no comentário de ontem feita por nosso colega.

    É possível? Não é possível?

    Creio que antes de começar a falar disso, a lição de hoje, no comentário de Tara Singh, já traz alguma luz a respeito, quando diz, como todos já sabemos que "o tempo é uma ilusão". Não o tempo cronológico, que parte de uma experiência concreta - ainda que na ilusão de uma vida, mas parte da experiência que escolhemos para nossas vidas - de medir ou contar a passagem dos dias.

    Ítalo Calvino, o escritor italiano, em seu livro "As Cidades Invisíveis", diz que o passado muda de acordo com o itinerário que o viajante faz, "não o passado recente ao qual cada dia que passa acrescenta um dia, mas um passado mais remoto. [Assim], ao chegar a uma cidade, o viajante reencontra um passado que não lembrava existir: a surpresa daquele que você deixou de ser ou deixou de possuir revela-se nos lugares estranhos, não nos conhecidos".

    Ora, o que isso quer dizer?

    Exatamente o que Tara Singh nos diz a respeito da não existência do tempo psicológico.

    E o que isso tem a ver com reencarnação?

    Vamos em primeiro lugar ao livro, ao Curso. No Manual do Professores, na página 62, o "capítulo" 24 é a resposta à pergunta: Existe reencarnação?

    E como é a resposta? Assim:

    "Em última instância, a reencarnação é impossível. Não há passado ou futuro, e a ideia de nascimento em um corpo não tem significado nem uma nem muitas vezes. A reencarnação, então, não pode ser verdade em nenhum sentido real."

    Não vou citar todo o texto, que abrange duas páginas. Vou lhes pedir que leiam o que o Curso diz, principalmente os/as que, como David, têm perguntas e/ou dúvidas acerca da questão.

    ... continua

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  2. ... continuação

    No entanto, quero destacar mais um ponto, para o qual o Curso chama a atenção. É o seguinte:

    "A reencarnação não deveria, em nenhuma circunstância, ser o problema com o qual se deve lida 'agora'. Se ela fosse responsável por algumas das dificuldades que o indivíduo enfrenta no presente, a tarefa dele ainda seria apenas a de escapar delas 'agora' [o grifo é meu]. Se ele [o indivíduo] está montando os alicerces para uma vida futura, ainda assim só pode trabalhar na sua salvação 'agora'[grifo meu novamente]..."

    É claro que, ao acreditar nos ensinamentos do Curso, sou forçado a crer que não existe nada fora e, portanto, a lidar com o mundo a partir desta ideia, com esta crença.

    Isso me força a trabalhar e a construir minha experiência no mundo sabendo que o mundo só existe como manifestação de tudo aquilo em que acredito. E tudo o que vejo não é senão uma projeção de minhas crenças, de meus pensamentos, de meus medos e de meus desejos, explícitos ou não, conscientes ou não. Isso não faz nenhuma diferença para aquilo que sou na verdade, aquele EU SOU QUE SOU, quando me encontro e a Deus em mim num "instante santo".

    O "agora", este instante presente, que se pode chamar de "instante santo", como o Curso ensina, é o único tempo que existe e é a experiência mais próxima que posso ter da eternidade que, por sua vez, não um presente que estende e prolonga de forma ilimitada. Não!

    A eternidade é um presente que se vive agora. Um presente que se vive a cada vez que se está presente, consciente da Presença em nós, do EU SOU em nós, que só pode existir e se manifestar em nós e, no mundo, a partir de nós, de cada um de nós, e, claro, de todos nós.

    Que necessidade poderá ter alguém que vive a eternidade em si a cada momento presente de um conceito como o de reencarnação?

    Pensemos! Reflitamos! Pratiquemos!

    Paz e bem!

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