quarta-feira, 18 de junho de 2025

Aonde formos a Graça divina também vai conosco

 

LIÇÃO 169

Vivo pela graça. Pela graça me liberto.

1. A graça é um aspecto do Amor de Deus que é o mais parecido ao estado predominante na unidade da verdade. É a aspiração mais elevada do mundo, pois conduz para além do mundo inteiramente. Está além do aprendizado embora seja a meta do aprendizado, pois a graça não pode vir até que a mente se prepare para a aceitação verdadeira. A graça vem a ser imediatamente inevitável naqueles que preparam uma mesa em que ela possa ser disposta de forma benigna e aceita com boa vontade; um altar puro e sagrado para a dádiva.

2. A graça é a aceitação do Amor de Deus em um mundo de ódio e medo aparentes. Apenas pela graça o ódio e o medo acabam, pois a graça representa um estado tão contrário a tudo o que o mundo contém que aqueles cujas mentes são iluminadas pela dádiva da graça não podem acreditar que o mundo do medo seja real.

3. Não se aprende a graça. O último passo deve ir além de todo o aprendizado. A graça não é a meta que este curso aspira alcançar. No entanto, nós nos preparamos para a graça, uma vez que uma mente aberta pode ouvir o Chamado para despertar. Ela não está hermeticamente fechada à Voz de Deus. Ela se torna consciente de que há coisas que não conhece e, desta forma, fica pronta para aceitar um estado completamente diferente da experiência com a qual está habitualmente familiarizada.

4. Talvez pareça que contradizemos a afirmação de que a revelação do Pai e do Filho como um só já está estabelecida. Mas dissemos também que a mente decide quando será este momento e que já o decidiu. E, não obstante, insistimos para que tu dês testemunho da Palavra de Deus para apressar a experiência da verdade e acelerar seu advento em cada mente que reconhecer os efeitos da verdade em ti.

5. A unidade é apenas a ideia de que Deus é. E, em Seu Ser, Ele abrange todas as coisas. Nenhuma mente contém nada a não ser Ele. Dizemos "Deus é" e, então, paramos de falar, pois neste conhecimento as palavras não têm sentido. Não há lábios para pronunciá-las e nenhuma parte da mente suficientemente distinta para perceber que agora ela está consciente de alguma coisa que não seja ela mesma. Ela se uniu a sua Fonte. E, como sua Própria Fonte, ela simplesmente é.

6. Não podemos em absoluto falar, nem escrever e nem mesmo pensar a respeito disto. Ele vem a cada mente quando o total reconhecimento de que sua vontade é a Vontade de Deus se der por completo e for recebido de forma completa. Ele devolve a mente ao presente infinito, no qual não se pode conceber passado e futuro. Ele está adiante da salvação; depois de qualquer ideia de tempo, de perdão e da face sagrada do Cristo. O Filho de Deus simplesmente desaparece em seu Pai, assim como seu Pai nele. O mundo absolutamente nunca existiu. A eternidade continua a ser um estado permanente.

7. Isto está além da experiência que tentamos apressar. Entretanto, o perdão, ensinado e aprendido, traz consigo as experiências que dão testemunho de que está próximo o momento que a própria mente estabeleceu para abandonar tudo, menos isto. Nós não a apressamos porque o que vais oferecer estava escondido d'Aquele Que ensina o que o perdão significa.

8. Todo o aprendizado estava na Mente d'Ele, realizado e completo. Ele reconheceu tudo o que o tempo contém e o deu a todas as mentes a fim de que cada uma pudesse decidir, a partir de um ponto de vista no qual o tempo acabara, quando ela seria liberada para a revelação e para a eternidade. Repetimos várias vezes antes que tu apenas fazes uma jornada que já terminou.

9. Pois a unidade tem de estar aqui. Qualquer que seja o momento que a mente estabelece para a revelação, ele é inteiramente alheio àquilo que tem de ser um estado permanente, que é eternamente como sempre foi e que deve permanecer para sempre como é agora. Nós apenas assumimos o papel há muito tempo atribuído e reconhecido plenamente como realizado por completo por Aquele Que escreveu o roteiro da salvação em Nome de Seu Criador e em Nome do Filho de Seu Criador.

10. Não há mais nenhuma necessidade de esclarecer o que ninguém no mundo pode compreender. Quando a revelação de tua unidade vier, ela será conhecida e compreendida plenamente. Agora temos trabalho a fazer, pois os que estão no tempo podem falar de coisas distantes e ouvir as palavras que explicam que o que está por vir já está vindo. Porém, que significado as palavras podem transmitir para aqueles que ainda contam as horas e se levantam e trabalham e vão dormir obedecendo ao ritmo delas?

11. Basta, então, que tenhas trabalho para fazer para, de fato, cumprires teu papel. O fim deve permanecer oculto para ti até que se cumpra teu papel. Não importa. Pois teu papel ainda é aquele do qual todos os outros dependem. Quando assumes o papel que te foi designado, a salvação chega um pouco mais perto de cada coração inseguro que ainda não pulsa em sintonia com Deus.

12. O perdão é o tema principal que perpassa toda a salvação, mantendo todas as suas parte em ligações significativas, seu curso orientado e seu resultado seguro. E agora pedimos a graça, a última dádiva que a salvação pode conceder. A experiência que a graça oferece terá fim no tempo, pois a graça prenuncia o Céu, embora não substitua a ideia do tempo senão por um breve instante.

13. O intervalo é suficiente. É aqui que se depositam os milagres para te serem devolvidos a partir dos instantes santos que recebes, por meio da graça em tua experiência, para todos aqueles que veem a luz que se prende a teu rosto. O que é o rosto de Cristo a não ser o daquele que esteve por um instante na intemporalidade e trouxe um reflexo claro da unidade que sentiu um instante atrás para abençoar o mundo? Como poderias, enfim, alcançá-la para sempre, enquanto uma parte de ti permanece fora, sem saber, adormecida e necessitando de ti como testemunha da verdade?

14. Sê grato por voltar, tal como ficaste contente em ir por um instante, e aceita as dádivas que a graça te ofereceu. Tu as trazes de volta para ti mesmo. E a revelação não está muito atrás. Sua vinda está garantida. Pedimos a graça e a experiência que vem da graça. Acolhemos a liberação que ela oferece a todos. Não pedimos o que não se pode pedir. Não olhamos adiante daquilo que a graça pode dar. Pois podemos dar isso na graça que nos foi dada.

15. A meta de nosso aprendizado hoje não vai além desta prece. Porém, no mundo, o que poderia ser mais do que aquilo que pedimos neste dia Àquele Que dá a graça que pedimos, assim como ela Lhe foi dada?

Vivo pela graça. Pela graça me liberto.
Dou pela graça. Pela graça vou libertar.

*

COMENTÁRIO:

Explorando a LIÇÃO 169

Caras, caros,

Apesar de toda a carga psicológica e histórica que pesa sobre este mundo de ilusões, ao nascermos, nascemos livres. Nascemos, todas e todos nós, prontas, prontos, para criar o mundo à volta de nós de acordo com aquilo que pensamos ser o mundo em que precisamos e queremos viver.

Nascemos para esta experiência ilusória de vida com tudo o que é necessário para viver a partir da graça divina, a partir da liberdade que temos pelo livre arbítrio. Também herdamos todo o poder que vem de Deus para o Ser em nós, Deus em nós, conosco. E nós n'Ele/Ela.

Se ainda aparentemente não vivemos a experiência de liberdade que a graça nos dá, é apenas porque nalgum momento escolhemos equivocadamente acreditar no ego - a falsa imagem de nós que construímos a partir do sistema de pensamento que sustenta a ilusão deste mundo. Todas as ilusões.

Assim é que vamos praticar a ideia para hoje.

"Vivo pela graça. Pela graça me liberto."

Possa a graça divina alcançar nossa consciência hoje, a partir da ideia que praticamos. A partir de nossas práticas. Para que de fato sejamos capazes de ver. E ver de modo diferente. Possa a graça de Deus nos permitir perceber de maneira clara que a Presença nos acompanha em todos os caminhos e está presente em todas as situações que se apresentarem a nós neste dia. Para que de fato sejamos capazes de ouvir. E ouvir verdadeiramente a Voz por Deus em nós. Possa a graça do divino em nós conceder a cada um e a cada uma ver a si mesmo, ou a si mesma em todos e todas aqueles e aquelas com quem se encontrar neste dia e em todos os dias que ainda virão. Para que de fato sejamos capazes de sentir que somos partes da unidade em Deus, que somos todos e todas um. Pois é pela graça, que nos concede a liberdade, que vamos ser capazes de libertar a todos e a todas do julgamento, o nosso próprio, de cada um e de cada uma, no ego, e o julgamento do mundo, dentro do sistema de pensamento do ego.

Como eu já disse antes, em perfeita sintonia com o ensinamento do Curso, e não só uma única vez, se mantivermos bem presente em nós, em todos os momentos de nossa vida, uma só das ideias das lições que já praticamos, seremos capazes de nos lembrar de que Deus vai conosco aonde formos. E se Ele/Ela vai conosco aonde formos, temos de reconhecer que a graça d'Ele/Ela também tem de estar conosco aonde quer que estejamos. É obrigatório, por ser óbvio, que reconheçamos e desejemos a consciência da Presença e da Graça em nossos dias, para que a partir delas possamos ser a manifestação da Graça do divino neste mundo. É isto que as práticas de hoje visam a nos ajudar a lembrar.

Pois, independentemente de quaisquer esforços que façamos, independente de qualquer busca a que nos dediquemos, é só a graça de Deus, a consciência da Presença da Graça, que pode, de fato, nos libertar e nos fazer compreender, para além da lógica e da razão do ego, que já somos aquilo que buscamos, conforme ensina o Curso. A jornada que aparentemente fazemos, na verdade, é uma jornada que não tem nada a ver com distância. Não tem nada a ver com o tempo, nem com o espaço ou com o lugar em que estamos e que escolhemos para viver.

Joel Goldsmith, em um de seus livros, diz que "enquanto pensarmos em nossa vida, em nosso corpo e em nossos negócios, e em como poderemos modificá-los ou melhorá-los, estamos vivendo dentro dos limites do parêntese, do finito [não estamos vivendo pela graça]. Mas no momento [em] que percebemos o círculo na sua integridade, deixamos de confinar a Vida num parêntese [e somos libertados]".

Diz mais, que "é possível que, nesse momento, estejamos contemplando a Vida desde o ângulo desse parêntese, mas, pelo menos, estaremos testemunhando a manifestação da vida que não tem começo e não terá fim, e assim estamos desfazendo esse parêntese, [aproximando-nos da eternidade, em que somos livres para ser o que somos, em Deus, sob Sua graça]".

Isso se consegue pelas práticas diárias. 

Às práticas?

terça-feira, 17 de junho de 2025

O ego sempre dá maior atenção ao erro, ao conflito

 

LIÇÃO 168

Tua graça me é dada. Eu a reivindico agora.

1. Deus fala conosco. Não falaremos com Ele? Ele não está distante. Ele não faz nenhuma tentativa de Se esconder de nós. Nós tentamos nos esconder d'Ele e nos enganamos. Ele permanece inteiramente acessível. Ele ama Seu Filho. Não existe nenhuma certeza a não ser esta, mas esta é suficiente. Ele amará Seu Filho para sempre. Enquanto a mente de Seu Filho permanece adormecida, Deus ainda o ama. E quando a mente dele desperta, Ele o ama com um Amor imutável.

2. Se ao menos conhecesses o significado do Amor de Deus, esperança e desespero seriam impossíveis. Pois a esperança estaria satisfeita para sempre; qualquer espécie de desespero inimaginável. A graça d'Ele é Sua resposta para todo o desespero, pois nela está a lembrança de Seu Amor. Ele não daria alegremente o meio pelo qual se reconhecer Sua Vontade? A graça de Deus é tua a partir de teu reconhecimento. E a lembrança d'Ele desperta na mente que Lhe pede o meio pelo qual seu sono acaba.

3. Hoje pedimos a Deus a dádiva que Ele preserva com o maior cuidado em nossos corações, esperando para ser reconhecida. Esta é a dádiva por meio da qual Deus se inclina para nós e nos eleva, dando Ele Mesmo o passo final para a salvação. Orientados pela Voz d'Ele, aprendemos todos os passos, menos este. Mas, finalmente, Ele Mesmo vem e nos toma em Seus Braços e varre as teias de nosso sono. Sua dádiva de graça é mais do que apenas uma resposta. Ela devolve todas as lembranças que a mente adormecida esquecera; toda a certeza do que é o significado do Amor.

4. Deus ama Seu Filho. Pede-Lhe agora para dar o meio pelo qual este mundo desaparecerá; e, em primeiro lugar, virá a visão e, apenas um instante depois, o conhecimento. Pois, na graça, vês uma luz que envolve o mundo inteiro no amor e observas o medo desaparecer de cada rosto, enquanto os corações se elevam e reivindicam a luz como sua. O que fica agora para que o Céu se atrase por mais um instante? O que ainda não se desfez, se teu perdão descansa sobre todas as coisas?

5. Este é um dia novo e santo, pois recebemos o que nos foi dado. Nossa fé está no Doador, não em nossa própria aceitação. Nós reconhecemos nossos erros, mas Ele, para Quem qualquer erro é desconhecido, ainda é Aquele Que responde aos nossos erros dando-nos o meio de abandoná-los e de nos elevarmos a Ele com gratidão e amor.

6. E Ele desce para nos encontrar, enquanto vamos a Ele. Pois o que Ele prepara para nós Ele nos dá e nós recebemos. Esta é a Vontade d'Ele porque Ele ama Seu Filho. Rezamos a Ele hoje, devolvendo apenas a palavra que Ele nos dá por meio de Sua Própria Voz, a Palavra d'Ele, Seu Amor:

Tua graça me é dada. Eu a reivindico agora.
Pai, venho a Ti. E Tu virás a mim, que peço.
Eu sou o Filho que Tu amas.

*

COMENTÁRIO:

Explorando a LIÇÃO 168

Caras, caros,

Em algum ponto do Curso, no texto, a Voz afirma que pedimos muito pouco do mundo. Isto quer dizer que, em geral, a maioria de nós se contenta com pouco na ilusão que vive. Poucos são aqueles e poucas aquelas que reivindicam mais para suas vidas. E, normalmente, mesmo dentro desta experiência ilusória de mundo que vivemos, são esses poucos e essas poucas que vivem, a seu modo, a Vontade de Deus para nós, de alegria e paz completas.

A razão para tal afirmação no ensinamento é o fato de que, como outra das coisas que ele diz, "não existe nada fora" de cada uma, de cada um de nós. Isto é, o mundo só existe para cada uma e para cada um de nós como representação daquilo que trazemos dentro. Assim ele é, para cada uma e para cada um de nós, exatamente como queremos que ele seja. Percebem?

Não há um mundo que seja igual a outro. E a experiência de mundo que vivemos, cada uma e cada um de nós, mesmo que não tenhamos consciência disso, é sempre a que escolhemos.

É por esta razão que precisamos praticar a ideia que Curso traz para hoje com toda a nossa capacidade de compreensão e com toda a abertura de que dispusermos para aceitarmos que nós, cada uma e cada um de nós, somos o mundo todo. Nós o criamos a partir da graça que aceitamos ou não como nossa. E podemos acessar a graça sempre que o quisermos. Basta pedir. E aceitá-la.

"Tua graça me é dada. Eu a reivindico agora."

A ideia para as práticas de hoje, como, em geral, cada uma das que praticamos com o Livro de Exercícios, lição após lição, oferece mais uma vez a oportunidade do contato com nossa herança legítima de Filhos de Deus, conforme eu já disse muitas outras vezes. 

E, repetindo a pergunta que já fiz também outras vezes: o que é preciso fazer para tomar posse desta herança?

Há uma parte do texto que diz literalmente: "tu não precisas fazer nada". O que isso quer dizer, na prática? Que podemos cruzar os braços, deitar numa rede, sentar num sofá ou deitar numa cama e esperar que tudo o que nos pertence por direito caia do Céu?

Não, não e não! 

Isso não significa que podemos nos sentar simplesmente e esperar que a solução para tudo caia do Céu. Apesar de, ao mesmo tempo, poder significar exatamente isto para aqueles que acreditam, de fato, que não é preciso fazer nada, que é só deixar que a vida os leve. Por que não? 

Entretanto, o que podemos pensar a respeito da afirmação de que não é preciso fazer nada, a partir de qualquer experiência por que tenhamos passado, é que o "não fazer nada" do Curso não é exatamente a mesma coisa que o ego pensa a respeito de "não fazer nada". Não é um "não fazer nada" passivo. É ativo. No seguinte sentido:

Um "não fazer nada" ativo pelo que entendo é aquele que, a partir de nossa consciência do espírito em nós, no contexto do ensinamento do Curso, envolve não utilizar as intenções do sistema de pensamento do ego nem para planejar, nem para "fazer" as coisas que ele nos pede que façamos por nós mesmos, por nós mesmas. Quer dizer, sem estarmos antes sintonizados e sintonizadas ao divino em nós. Vejam a este respeito o capítulo 30, de onde tirei o nome deste blog. Logo após a introdução do capítulo, ele traz o subtítulo Regras para decisões, que talvez sirva para nos ajudar a entender o que significa "não fazer nada" para o ensinamento. 

Não podemos nos deixar enganar pelo que o ego nos apresenta na forma e pensar que vivemos em um mundo que necessita de reparos. E, para tanto, de planejamento. Um mundo que homens e mulheres precisam mudar. Um mundo em que o que vemos a cada instante é apenas uma grande confusão gerada por erros enormes de todos os que viveram antes de nós e por erros maiores ainda daqueles que vivem este tempo conosco, e que não aprenderam nada com os erros dos que vieram antes. E pensar até mesmo que aqueles e aquelas que virão depois de nós vão continuar a cometer os mesmos erros que já foram cometidos ao longo do tempo. Aliás, entre outras coisas, o Curso afirma também que a história só existe porque continuamos a cometer os mesmos erros. Ou seja, a história não é nada mais do que uma sucessão de erros. E, se pensarmos bem, para a experiência ilusória que vivemos aparentemente neste mundo, os acertos não são considerados importantes, uma vez que o sistema de pensamento do ego dá sempre a maior atenção para o erro, para o conflito, para o ataque, para o julgamento e para tudo o que pode servir para lhe conferir existência.

Em meu modo de ver, o "não fazer nada" do ego - o "não fazer nada" passivo - é o entregar-se à ideia de que não importa o que façamos, nada irá mudar, pois só o que pode mudar é a ilusão. Não importa quão boas e nobres sejam as nossas intenções, o mundo e todos e tudo nele estão condenados, no melhor dos sentidos, à verdade. 

Para o ego, as coisas, na ilusão, só vão piorar ou melhorar, às vezes, para piorar depois vezes sem conta, ad infinutum, independentemente do que cada um ou cada uma fizer, pois somos, todos, todas, cada um e cada uma de nós, apenas partes insignificantes de um universo muito maior sobre o qual não temos a menor influência. Tudo dentro da ilusão de mundo que o falso eu nos mostra.

Para o Curso, no entanto, em meu modo de ver, o "não fazer nada" - o ativo - é reconhecer o que a lição de hoje nos convida a praticar. "Não fazer nada" é, pois, reconhecer que somos herdeiros e herdeiras legítimos e naturais da graça divina. E reconhecer que a merecemos e que podemos reivindicá-la. Até porque para viver a graça, ou na graça, é preciso que a queiramos. Ou, como dizia uma lição anterior, é reconhecer que estamos encarregados, e encarregadas, "das dádivas de Deus". O "não fazer nada" ativo é, portanto, reivindicar esta graça, para aprender a olhar para o mundo de modo diferente. E ver nele, e em tudo o que existe, a marca da graça de Deus, impressa pelo nosso olhar amoroso. 

Estendendo ainda um tantinho mais este comentário, creio que é possível dizer também que o "não fazer nada" a que o Curso se refere tem a ver com curar a percepção, com acordar, da forma que Goldsmith traz para a nossa reflexão em seu livro A Arte de Curar pelo Espírito, em que ele diz:

Acordar.
É esta a natureza da cura espiritual. Se estiveres lutando contra alguma forma de pecado, de desejos falsos, doença, pobreza, desemprego, ou infelicidade, para de lutar e acorda. Acorda para tua verdadeira identidade. Tu não és um nadador em mar profundo; tu não és um sofredor em pecado e doença: Tu és a consciência de Cristo, uma criança de Deus, e, com tua luta, perpetuas precisamente o erro contra o qual lutas. 

Às práticas?

segunda-feira, 16 de junho de 2025

A vida é uma só, apesar da infinidade de aparências

 

LIÇÃO 167

Há uma só vida e é esta que compartilho com Deus.

1. Não existem tipos diferentes de vida, pois a vida é igual à verdade. Ela não tem graus. É a única condição da qual tudo o que Deus criou compartilha. Como todos os Pensamentos d'Ele, ela não tem oposto. Não há morte porque aquilo que Deus criou compartilha de Sua vida. Não há morte porque não existe um oposto para Deus. Não há morte porque o Pai e o Filho são um só.

2. Neste mundo, parece haver um estado que é o contrário da vida. Tu o chamas de morte. No entanto, aprendemos que a ideia da morte toma muitas formas. É a única ideia subjacente a todas as sensações que não sejam extremamente felizes. É o alarme ao qual atendes quando reages de qualquer modo que não seja alegria completa. Qualquer tristeza, perda, ansiedade, sofrimento e dor, mesmo um suspiro de cansaço, um leve mal-estar ou a mais simples expressão de desagrado admitem a morte. E, deste modo, negam que vives.

3. Tu pensas que a morte está relacionada ao corpo. Porém, ela é apenas uma ideia inaplicável ao que se vê como físico. Uma ideia existe na mente. Por isto ela pode ser aplicada da forma que a mente a orienta. Mas é em sua origem que ela tem de ser mudada, se a mudança acontecer. As ideias não deixam sua fonte. A ênfase que este curso coloca nesta ideia se deve ao fato de ela ser primordial em nossas tentativas de mudar teu modo de pensar acerca de ti mesmo. Ela é a razão pela qual podes curar. Ela é a causa da cura. Ela é o motivo pelo qual não podes morrer. A verdade dela te estabeleceu como uno com Deus.

4. A morte é a ideia de que estás separado de teu Criador. É a crença de que as condições mudam, as emoções variam em razão de causas que não podes controlar, que não inventaste e que não podes mudar nunca. É a crença arraigada de que ideias podem deixar sua fonte e assumir qualidades que a fonte não tem, tornando-se diferentes de sua própria origem, separadas dela tanto em estado quanto em espaço, tempo e forma.

5. A morte não pode vir da vida. As ideias permanecem unidas a sua fonte. Elas podem estender tudo o que sua fonte contém. Neste aspecto, elas podem ir muito além de si mesmas. Mas não podem dar origem àquilo que nunca lhes foi dado. Conforme foram feitas, assim será seu fazer. Conforme foram criadas, assim criarão. E voltarão ao lugar de onde vieram.

6. A mente pode imaginar que dorme, mas isto é tudo. Ela não pode mudar aquilo que é seu estado desperto. Ela não pode inventar um corpo, nem morar no interior de um corpo. Aquilo que é estranho à mente não existe, porque não tem fonte. Pois a mente cria todas as coisas que existem e não pode lhes dar qualidades que lhe faltem, nem mudar seu próprio estado de atenção eterna. Ela não pode fazer o físico. Aquilo que parece morrer é apenas o sinal da mente adormecida.

7. O contrário da vida só pode ser outra forma de vida. Como tal, ela pode ser conciliada com o que criou, porque ela não é um oposto na verdade. Sua forma pode mudar; ela pode parecer ser o que não é. No entanto, mente é mente, acordada ou dormindo. Ela não é seu contrário em nada criado, nem naquilo que ela parece fazer quando acredita que dorme.

8. Deus só cria a mente desperta. Ele não dorme, e Suas criações não podem compartilhar aquilo que Ele não dá, nem inventar condições que Ele não compartilhe com elas. A ideia da morte não é o contrário dos pensamentos de vida. Por serem eternamente não contrariados por opostos de qualquer tipo, os Pensamentos de Deus continuam a ser imutáveis para sempre, com o poder para se estenderem imutavelmente, mas ainda no interior de si mesmos, pois eles estão em todos os lugares.

9. Aquilo que parece ser o contrário da vida está dormindo simplesmente. Quando a mente escolhe ser o que ela não é e simular um poder estranho que não tem, um estado estranho no qual não pode penetrar ou uma condição falsa que não se encontre em sua Fonte, ela simplesmente parece ir dormir um pouco. Ela sonha com o tempo; um intervalo no qual o que parece acontecer não acontece jamais, as mudanças feitas não têm sentido e todos os acontecimentos não estão em parte alguma. Quando a mente desperta, ela apenas se mantém como sempre foi.

10. Sejamos, hoje, filhos da verdade e não neguemos nossa herança sagrada. Nossa vida não é como a imaginamos. Quem muda a vida em razão de fechar os olhos, ou fazer de si mesmo o que não é porque dorme e vê em sonhos um oposto ao que é? Não pediremos a morte em nenhuma forma hoje. E também não permitiremos , nem por um instante, que opostos imaginários à vida habitem no lugar em que o Pensamento da vida eterna foi posto pelo Próprio Deus.

11. Hoje lutamos para manter Seu lar sagrado como Ele o estabeleceu e quer que ele seja para todo o sempre. Ele é o Senhor do que pensamos hoje. E em Seus Pensamentos, que não têm opostos, compreendemos que há uma só vida e que é esta vida que compartilhamos com Ele, com toda a criação, com os pensamentos dela também, a quem Ele criou em uma unidade de vida que não pode se separar na morte e deixar a Fonte da vida de onde veio.

12. Compartilhamos uma única vida porque temos uma única Fonte, uma Fonte da qual a perfeição vem a nós, permanecendo sempre nas mentes sagradas que Ele criou perfeitas. Do modo que éramos, também somos agora e seremos para sempre. Uma mente adormecida tem de despertar, quando vê sua própria perfeição espelhando o Senhor da vida de forma tão perfeita que se desvanece no que está refletido aí. E agora ela não é mais um simples reflexo. Ela se torna a coisa que reflete e a luz que torna o reflexo possível. Não se necessita de nenhuma visão agora. Pois a mente desperta é aquela que conhece sua Fonte, seu Ser e sua Santidade.


*

COMENTÁRIO:


Explorando a LIÇÃO 167

Caras, caros,

A forma que temos para viver neste mundo ilusório está toda baseada na percepção que recebemos pelos sentidos. Não lhes parece? Mas esta percepção é normalmente enganadora. E muito. Na maioria das vezes. 

Por quê?

Porque nada do que vemos é como vemos, a não ser na aparência, na ilusão. 

Porque ao tocarmos alguma coisa não somos capazes de dizer, na maioria das vezes, o que ela é. E quando dizemos, pensando saber, referimo-nos apenas ao que a coisa aparenta ser. Nunca ao que ela de fato é. 

Porque quando sentimos o cheiro de alguma coisa, ou nos transportamos para o passado, para uma experiência que tivemos a partir do olfato, e que já não existe mais, e, mais uma vez, estamos lidando com a ilusão, ou acrescentamos ao nosso repertório um cheiro que não conhecíamos, catalogando-o como uma novo nome dado à ilusão.

Porque ao provarmos um alimento qualquer, se já tivemos a experiência de o ter provado anteriormente, também trazemos à memória uma experiência passada. Gostando ou não do que provamos, comparamos o gosto a um gosto anterior. E, se o alimento é novo para nós, nossa reação é em geral de agrado ou desagrado. Não somos capazes de considerar a possível neutralidade do alimento, sem nos voltamos para a ilusão de algo "conhecido". Quer dizer, não somos nem por um momento capazes de entrar em contato com o alimento por aquilo que ele é. Porque não sabemos.

Por fim, um som que ouvimos pode provocar o mesmo efeito que um "cheiro" e nos transportar a um momento que "vivemos" no passado, ainda dentro da experiência ilusória do mundo. Ou de um mundo particular, que já não existe porque passado.

E a vida? Como diz a letra da música: "e a vida? diga lá o que é meu irmão..." Será que alguma ou algum de nós consegue perceber a vida? Compreendê-la em todas as sua extensão e diversidade? Haverá mais de uma vida?
É disto que vamos tratar nas práticas com a ideia que o Curso nos reservou para hoje.

"Há uma só vida e é esta que compartilho com Deus."

Voltamos, hoje, uma vez mais a uma das ideias que talvez esteja entre as mais difíceis de se entender a partir da lógica do ego, da lógica daquele a quem Elio D'Anna chama de ser humano comum, que, a rigor, somos todos e todas nós, quando ainda não iniciamos o movimento consciente e decidido de buscar tomar consciência de nós mesmos e de nós mesmas e do papel que nos cabe neste mundo das ilusões e dos sentidos.

Por isso, repito, para esta lição, quase que inteiramente, a não ser por algumas pequeninas alterações, os comentários feitos a ela nos últimos anos. Acredito que é a partir do entendimento desta ideia de hoje que vamos poder chegar ao ponto de questionar a ideia da inevitabilidade da morte, de que já falamos em uma lição anterior há não muito tempo. É a partir dela que podemos chegar a questionar a própria morte, que é uma das ferramentas mais caras ao sistema de pensamento do ego, conforme vimos em uma das lições recentes. 

Assim é que, entender que a vida é uma só, e que tudo aquilo que vemos e que pensamos existir na aparência é apenas a manifestação desta vida única, apesar da diversidade, da infinidade, de formas que vemos, e entender também que esta vida única é a vida que compartilhamos com Deus, é dar um passo gigantesco em direção da cura da percepção, em direção do autoconhecimento - se é que isto é possível - e em direção do contato direto com o divino de quem nunca nos separamos. 

Esse contato direto se dá o tempo todo, mesmo quando temos a impressão de que não ouvimos a Voz por Deus. Mesmo quando pensamos que estamos distantes da Presença, por não A termos trazido à consciência. Mesmo quando nos recusamos a abrir os ouvidos para a Voz do divino em nós mesmos e em nós mesmas, ou quando ficamos cegos e cegas à manifestação da Graça. Nos momentos em que tudo o que conseguimos ver é a crise, por exemplo. Ou situações para as quais aparentemente não há saída. Como as que se apresentam, apenas na ilusão - que muitos dentre nós tentam reforçar como se fosse realidade -, para a grande maioria de nós, brasileiros e brasileiras, no momento por que passamos neste país, já há um bom tempo.

É esta compreensão que pode nos pôr - e, de fato, nos põe, se a escolhermos, é claro - aptos e aptas a curar pelo espírito, pois já aprendemos a não dar crédito àquilo que nos mostram os corpos e a percepção dos sentidos, colocando toda a nossa confiança na informação que nos chega a partir do divino em nós, a partir da atenção e da escuta da Voz por Deus, que brota da Fonte da criação daquilo que somos na verdade. Deixando de dar ouvidos às informações todas que nos chegam das fontes do ego e que buscam apenas perpetuar a ilusão de todas as maneiras possíveis. Imagináveis e inimagináveis, muitas vezes.

Em seu livro A Arte de Curar pelo Espírito, Joel Goldsmith diz que "... a cura pelo espírito é algo tão estranho, tão revolucionário, tão diferente do modo cotidiano de pensar, que é difícil ensiná-la ou comunicá-la a outros". Eu diria: muito difícil. Muito difícil mesmo, porque quando estamos à mercê do sistema de pensamento do ego, sem buscar questioná-lo, mesmo uma cura milagrosa não se nos afigura possível. Há muitos e muitas entre nós, que, tendo olhos, não veem e, tendo ouvidos, não ouvem. De que lhes vale então ter olhos e ouvidos?

Ele diz também que: "no momento em que alguém se torna instrumento pelo qual outro recebe cura - mesmo que se trate apenas de uma simples indigestão ou de uma dor de cabeça comum - é isto uma prova de que há uma presença, uma força; entramos em contato com Algo, que transcende a capacidade ou a inteligência humana [sua lógica]. E isto quer dizer que, a partir daí, nosso trabalho deve consistir em continuar a procurar, intensificando a consciência dessa presença e fazendo exercícios práticos, até que venha a compreensão, seguida da verdadeira realização".  

É claro, como vimos muitas vezes antes, que, a partir do que nos ensina o Curso, já somos capazes de entender que aquilo que o curador - a pessoa que cura -, ou a curadora, faz não é nada mais do que "auxiliar" o outro, o doente, a abrir-se para a presença do divino em si mesmo, o que permite que ele transcenda/ultrapasse a crença/o pensamento que o mantém aparentemente preso à doença, qualquer que ela seja. 

Também precisamos, como nos chamou a atenção a lição de ontem, ficar atentos e atentas aos efeitos de nossas escolhas sobre aquelas pessoas todas, sejam quem forem, que compartilham o mundo conosco - de certa forma, podemos dizer que compartilhamos o mundo com todas as pessoas que existem, ou, pelo menos, todas as que estão presentes em nossa consciência, de um modo ou outro. Assim é que, se choramos, nós as autorizamos a chorarem. Nosso medos justificam para elas os medos que vemos e de que ouvimos falar numas e noutras. Nossa dor autoriza o sofrimento e a dor delas. Nossa doença apenas demostra que a cura pode ser demorada e que a doença é uma possibilidade, que pode ser real e pode atingi-las da mesma forma que nos atingiu.

É para isso que se orientam nossas práticas. Hoje, e em todos os dias, nos momentos que escolhemos dedicar nossa atenção ao encontro com o divino em nós mesmos e em nós mesmas, como forma de alcançar o conhecimento que pensamos ter esquecido, quando, enganados e enganadas pelo falso eu, nos acreditamos separados e separadas de Deus e, por consequência, de nós mesmos e de nós mesmas e daquilo que somos na essência, na verdade, e de todas as pessoas que andam por este mundo conosco.

Já aprendemos em uma lição anterior que a morte não existe. O que morre não é o que Deus criou, pois "aquilo que Deus cria é eterno", uma ideia que está em perfeita sintonia com a ideia que a lição nos oferece para a práticas de hoje. 

Acreditar, perceber, reconhecer, compreender, no sentido de aceitar, a ideia de que a vida é uma só permite que nos libertemos da ideia do tempo, para compreender que o passado passou e não deixou nada a não ser a beleza e uma bênção, para aqueles e aquelas que aprendem a olhar para o mundo livres do medo que serve apenas para esconder o Ser, que sempre foi, ainda é, e sempre será parte de nós, aliás, a única parte verdadeira de nós, que está além do tempo e que já venceu a morte. E que também não há futuro para se temer.

E é Goldsmith, mais uma vez, que nos garante que: "em sentido absoluto, não há futuro: o futuro é a continuação do presente, é o prolongamento do presente no tempo e no espaço; nosso futuro será este presente [o que cada um e cada uma de nós cria para si], qualquer que seja, a se estender através do tempo e do espaço".

E é um presente com consciência da Presença que as práticas nos oferecem. Porque, citando Goldsmith uma vez mais ainda: "Eis aqui agora o dia da salvação" (II Cor, 6:2). Agora é o único tempo, agora é o tempo perfeito. Agora Eu sou. Agora somos filhos de Deus. Agora - não amanhã, não quando estivermos mortos, mas agora! Agora vivemos, nos movemos e temos nosso ser na Consciência-Cristo". É só agora que podemos viver esta vida única que compartilhamos com Deus.

Às práticas?

domingo, 15 de junho de 2025

Nego a mim mesmo as dádivas, se eu não as ofereço

 

LIÇÃO 166

Eu estou encarregado das dádivas de Deus.

1. Todas as coisas te são dadas. A confiança de Deus em ti não tem limite. Ele conhece Seu Filho. Ele dá sem exceção, não retendo nada que possa contribuir para tua felicidade. E, não obstante, a menos que tua vontade seja uma só com a d'Ele, Suas dádivas não são recebidas. Mas o que te faria pensar que existe outra vontade além da d'Ele?

2. Eis aqui o paradoxo subjacente à feitura do mundo. Este mundo não é a Vontade de Deus e, por isto, ele não é real. Porém, aqueles que pensam que ele é real têm ainda de acreditar que há outra vontade, e uma que conduz a efeitos contrários àqueles que Ele quer. Impossível, de fato; mas toda a mente que olha para o mundo e o julga certo, sólido, digno de confiança e verdadeiro acredita em dois criadores; ou em um, ele mesmo apenas. Mas nunca em um só Deus.

3. As dádivas de Deus não são aceitáveis para ninguém que tenha estas crenças estranhas. Ele tem de acreditar que aceitar as dádivas de Deus, por mais evidentes que elas possam vir a ser, por mais urgentemente que ele possa ser chamado a reclamá-las como suas, é ser pressionado à traição de si mesmo. Ele tem de negar a presença delas, contradizer a verdade e sofrer para preservar o mundo que fez.

4. Aqui é o único lar que ele conhece. Aqui está a única segurança que ele acredita poder encontrar. Sem o mundo que fez, ele é um pária; sem lar e com medo. Ele não se dá conta de que é aqui, de fato, que ele é amedrontado, e sem lar, também; um pária vagando tão distante de casa, longe há tanto tempo que não compreende que se esqueceu de onde veio, aonde vai e até mesmo quem ele é realmente.

5. Entretanto, em suas divagações solitárias e sem sentido, as dádivas de Deus vão com ele, inteiramente desconhecidas para ele. Ele não pode perdê-las. Mas ele não olhará para aquilo que lhe é dado. Ele continua a vagar, ciente da futilidade do que vê a sua volta em todos os lugares, percebendo o quanto sua pouca sorte apenas diminui enquanto segue em frente em direção a lugar nenhum. Ele ainda continua a vagar na amargura e na pobreza, só, embora Deus vá com ele, e um tesouro dele tão grande que tudo o que o mundo contém é sem valor diante de sua magnitude.

6. Ele parece uma figura lamentável, exausto, fatigado, com as roupas surradas, e com pés que sangram um pouco em razão da estrada dura pela qual ele anda. Ninguém deixa de se identificar com ele, pois todos que vêm aqui buscam o caminho que ele segue e sentem a derrota e a desesperança do mesmo modo que ele as sente. No entanto, ele é realmente trágico, quando vês que ele segue o caminho que escolheu e só precisa perceber de forma clara Quem anda com ele e explorar seus valores para ser livre?

7. Este é teu ser escolhido, aquele que fizeste como substituto para a realidade. Este é o ser que defendes violentamente contra toda razão, todo indício e todas as testemunhas com prova para te mostrar que este não és tu. Tu não lhes dás ouvidos. Continuas no caminho que fixaste para ti, com os olhos voltados para baixo a fim de não teres um vislumbre da verdade e seres liberado do auto-engano e libertado.

8. Tu te escondes com medo para não sentir o toque de Cristo sobre teu ombro e para não perceber Sua mão benigna te orientando a olhar para tuas dádivas. Como poderias, então, anunciar tua pobreza no exílio? Ele te faria rir desta percepção de ti mesmo. Onde está, então, a auto piedade? E o que vem a ser de toda a tragédia que buscaste inventar para aquele a quem Deus destinava apenas alegria?

9. Teu medo antigo vem a ti agora e a justiça, enfim, te alcança. A mão de Cristo toca teu ombro e sentes que não estás sozinho. Pensas até mesmo que o ser amargurado que acreditavas que eras pode não ser tua Identidade. Talvez a Palavra de Deus seja mais verdadeira do que a tua. Talvez as dádivas d'Ele para ti sejam reais. Talvez Ele não tenha sido inteiramente ludibriado por teu plano de manter Seu Filho em esquecimento profundo, e de seguir pelo caminho que escolheste sem teu Ser.

10. A Vontade de Deus não resiste. Ela é simplesmente. Não é a Deus que aprisionas em teu plano para perder teu Ser. Ele não sabe de um plano tão estranho a Sua Vontade. Há uma necessidade que Ele não compreendeu, à qual Ele deu uma Resposta. Isto é tudo. E tu, que tens esta Resposta dada a ti, não tens necessidade de nada mais do que isto.

11. Agora vivemos, porque agora não podemos morrer. O desejo de morte é respondido e agora a visão que olhava para ele foi substituída pela visão que compreende que tu não és o que fingias ser. Caminha contigo Alguém Que responde benignamente a todos os teus medos com esta única resposta misericordiosa: "Isto não é verdade". Ele mostra todas as dádivas que tens cada vez que a ideia de pobreza te oprime e fala de Seu Companheirismo quando te percebes solitário e com medo.

12. Ele também te lembra ainda de mais uma coisa de que tinhas te esquecido. Pois o toque d'Ele te torna igual a Ele Mesmo. As dádivas que tens não são só para ti. O que Ele vem te oferecer, tu tens agora de aprender a dar. Esta é a lição que Sua doação contém , pois Ele te salva da solidão que buscaste fazer para te esconder de Deus. Ele te lembra de todas as dádivas que Deus te dá. Ele também fala daquilo que tua vontade se torna quanto aceitas estas dádivas e reconheces que elas são tuas.

13. As dádivas são tuas, confiadas a teu cuidado, para dares a todos que escolheram a estrada solitária de que escapaste. Eles não compreendem que buscam apenas seus desejos. Tu és quem os ensina agora. Pois aprendeste de Cristo que há outro caminho para eles andarem. Ensina-os pela demonstração da felicidade que vem para aqueles que sentem o toque de Cristo e reconhecem as dádivas de Deus. Não permitas que a tristeza te tente a ser desleal para com a tua confiança.

14. Neste caso teus suspiros trairão as esperanças daqueles que olham para ti em busca de sua liberação. Tuas lágrimas são as deles. Se ficas doente, apenas retardas a cura deles. Aquilo de que tens medo apenas lhes ensina que seus medos se justificam. Tua mão se torna a doadora do toque de Cristo; a mudança de teu modo de pensar se torna a prova de que aquele que aceita as dádivas de Deus jamais pode sofrer coisa alguma. Tu estás encarregado da liberação da dor do mundo.

15. Não o traias. Torna-te a prova viva daquilo que o toque de Cristo pode oferecer a todos. Deus confia todas as Suas dádivas a ti. Sê testemunha, em tua felicidade, do quanto vem a ser transformada a mente que escolhe aceitar Suas dádivas e sentir o toque de Cristo. Esta é tua missão agora. Pois Deus confia a doação de Suas dádivas a todos os que as recebem. Ele compartilha Sua alegria contigo. E, agora, tu vais compartilhá-la com o mundo.

*

COMENTÁRIO:

Explorando a LIÇÃO 166

Caras, caros,

Conforme já falamos outras vezes, muitas, aqui, poucas e poucos dentre nós sabem por que razão estão vivendo neste mundo. Em geral, a grande maioria das pessoas anda por este mundo feito zumbi. 

Ainda não nos apercebemos de que estar aqui é uma dádiva. Ainda não somos capazes de agradecer o tempo inteiro por tudo aquilo que recebemos. E recebemos o tempo inteiro.

É disto que vamos tratar com as práticas da ideia que o Curso nos oferece para hoje.

"Eu estou encarregado das dádivas de Deus."

Pensando mais uma vez na forma como cada um e cada uma de nós recebe a informação, na forma como cada um e cada uma de nós filtra - a partir de sua própria experiência - a informação que lhe chega e reserva para si só aquilo que se encaixa em sua própria maneira de pensar, acho que vale a pena nos perguntarmos de novo - e refletirmos  a respeito: o que significa para cada um e para cada uma de nós a ideia para as práticas de hoje?

Perguntemo-nos, então: o que significa para mim ouvir, ler, praticar com a ideia que me informa e informa a cada um e cada uma de nós que "eu estou encarregado das dádivas de Deus"? 

E vai ficar claro, esperemos pelo menos, que as práticas deste dia se destinam a responder a esta pergunta. se praticarmos direito, sincera e honestamente seguindo as orientações do Curso. Em geral, não nos vemos como portadoras e portadores dos dons divinos e esta ideia quer nos fazer ver que o somos de fato. 

Esta ideia quer que reconheçamos que, a maior parte do tempo somos muito mal-agradecidos e mal-agradecidas e nos julgamos desgraçados e desgraçadas por viver aonde vivemos, nas condições em que vivemos, no corpo que nos carrega. Julgamos ser apenas uns pobres-diabos, umas pobre-diabas. Mas, para as práticas de hoje, isso só é verdadeiro quando estamos vivendo apenas a ilusão. Quer dizer, quando, imersos e imersas por inteiro na ilusão, a tomamos por realidade.

Interessante e produtivo também para a nossa reflexão e prática é notar que, só em função de não nos vermos como portadores, ou portadoras, dos dons divinos, como "encarregados [ou encarregadas] das dádivas", orientados e orientadas pelo falso eu e por seu sistema de pensamento, é que nos arvoramos em juízes e juízas julgadores e julgadoras do(s) outro(s), ou da(s) outra(s). E de nós mesmos e de nós mesmas por consequência, e em primeiro lugar, uma vez que o(s) outro(s), a(s) outra(s), é (são) apenas projeção(ões) de partes, de fragmentos, de nós mesmos e de nós mesmas, que estamos buscando rejeitar, ao não reconhecê-los em nós. 

Em todo o caso, a partir da ideia de hoje deve ficar claro para cada um e cada uma de nós, como ensina o Curso, que não podemos ver o divino nas outras pessoas, nem em nada do que há no mundo, se não o conseguimos sequer vislumbrar em nós mesmos e em nós mesmas. E já que não há, de fato, nada fora de nós mesmos e de nós mesmas, conforme já vimos muitas e muitas vezes até agora, precisamos aprender, praticando as ideias que o Curso nos oferece dia após dia, que é só em nós - em cada um e cada uma de nós e, claro, em todos e todas nós - que os dons estão disponíveis. Tudo só começa e termina em nós. Sempre.

A prática da ideia de hoje, portanto, oferece novamente a possibilidade de aprendermos de que forma podemos viver o Paraíso na terra, o Céu na terra. De que forma criar e transportar daqui para ali, de ali para cá, por onde quer que andemos, aquele paraíso portátil de que falamos algumas lições atrás. 

Por que, então, adiar a tomada de decisão, se tudo o que queremos é viver o Paraíso, o Céu, na terra? Pelo receio de que haja um preço a se pagar por isso? O medo de que este preço seja muito alto? O que pensamos poder perder, o que pensamos ter de dar em troca, pelas dádivas de Deus? Esta vida que vivemos? Mas quem vive, de fato, quando pensa estar separado de Deus? Quando pensa levar uma vida miserável, e ser um deserdado por Deus? 

[Breve parêntese para uma historinha:
 
Diz-se que um grande mestre da tradição hassídica, Yitzhak Méir, ainda era uma criança quando alguém, para se divertir, lhe disse: 
- Eu te dou um florim se me disseres onde mora Deus. 
- E eu, respondeu a criança, te dou dois se me disseres aonde Ele não mora.] 

Ora, não há preço nenhum a pagar e não é preciso fazer coisa alguma a não ser estender as dádivas a tudo o que existe, a todas e a todos. Ao compartilhá-las reconhecemos que as temos, pois nós as aceitamos e somos gratos e gratas por elas.

O que a lição de hoje nos ensina é que precisamos aprender a ter consciência de que tudo o que fazemos é a nós mesmos e a nós mesmas que fazemos, e precisamos ter essa consciência sempre presente em nós em todos os nossos dias, em todos os momentos, em todas as situações e circunstâncias. E também de que tudo o que fazemos a nós mesmos e a nós mesmas fazemos, por consequência a Deus, porque não podemos ser diferentes ou separados e separadas d'Ele/Ela. Então, se estendermos as dádivas de Deus, a tudo e a todos e todas, por estarmos encarregados e encarregadas delas, por as termos reconhecido e aceitado como nossas, o que poderemos receber em troca? Mais dádivas apenas.

Por outro lado, toda e qualquer dádiva que nos negamos a oferecer a quem quer que seja, da mesma forma, é a nós mesmos e a nós mesmas que negamos e é por isso que deixamos de recebê-la. Na maioria das vezes em que espero receber algo e não recebo é porque me neguei a oferecer aquilo a alguém, ao universo. Quer dizer, quando não ofereço as dádivas que recebo, eu as nego a mim mesmo. Isto nos leva a concluir mais uma vez, em perfeita sintonia com o que o Curso ensina, que "só nos falta aquilo que não damos", como já vimos outras vezes.

Busquemos, então, aprender, com a ideia para as práticas de hoje, que Deus confiou e confia a nós o tempo inteiro todas as Suas dádivas. E, claro, com elas, a completa e total responsabilidade por tudo o que vamos escolher fazer com o que recebemos.

Às práticas?