quarta-feira, 14 de março de 2012

Todas as coisas são essencialmente impermanentes


LIÇÃO 74

Não há nenhuma vontade a não ser a de Deus.

1. Pode-se considerar a ideia de hoje como o pensamento central a que se destinam todos os nossos exercícios. A Vontade de Deus é a única Vontade. Quando reconheces isto, reconheces que tua vontade é a d'Ele. A crença em que o conflito é possível desaparece. A paz substitui a estranha ideia de que estás dilacerado por metas contraditórias. Enquanto uma expressão da Vontade de Deus, tu não tens nenhuma meta a não ser a d'Ele.

2. Há uma paz imensa na ideia de hoje, e os exercícios para hoje se destinam a achá-la. A própria ideia é totalmente verdadeira. Por esta razão, ela não pode dar origem a ilusões. Sem ilusões o conflito é impossível. Vamos tentar reconhecer isto hoje e experimentar a paz que este reconhecimento traz.

3. Começa os períodos de prática mais longos repetindo estes pensamentos várias vezes, devagar e com a firme decisão de compreender o que eles significam e de mantê-los em mente:

Não há nenhuma vontade a não ser a de Deus.
Eu não posso ficar em conflito.

Em seguida, passa alguns minutos acrescentando alguns pensamentos afins, tais como:

Eu estou em paz.
Nada pode me perturbar.
Minha vontade é a de Deus.
Minha vontade e a de Deus são a mesma.
Deus quer paz para Seu Filho.

Durante esta fase introdutória, certifica-te de te ocupares prontamente de quaisquer pensamentos de conflito que possam passar por tua mente. Dize imediatamente a ti mesmo:

Não há nenhuma vontade a não ser a de Deus.
Estes pensamentos contraditórios não têm sentido.

4. Se houver uma área de conflito que pareça ser particularmente difícil de resolver, escolhe-a para uma reflexão especial. Pensa nela brevemente, mas de forma muito específica, identifica a pessoa, ou pessoas, e a situação, ou situações, envolvidas e dize a ti mesmo:

Não há nenhuma vontade a não ser a de Deus. Eu a compartilho com Ele.
Meus conflitos a respeito de __________ não podem ser verdadeiros.

5. Depois de limpares tua mente desta forma, fecha os olhos e tenta experimentar a paz à qual tua realidade te dá direito. Mergulha nela e sente-a se fechando a tua volta. Pode haver alguma tentação de confundir estas tentativas com retraimento, mas é fácil descobrir a diferença. Se estiveres sendo bem-sucedido, terás uma sensação de alegria profunda e de uma vivacidade ampliada, em lugar de uma sensação de desânimo e de fraqueza.

6. A alegria define a paz. Por esta experiência reconhecerás que a alcançaste. Se te sentires escorregando para o retraimento, repete depressa a ideia para hoje e tenta outra vez. Faze isto tantas vezes quantas forem necessárias. Há um claro benefício em te recusares a admitir refúgio no retraimento, mesmo que não experimentes a paz que buscas.

7. Nos períodos mais breves, que devem ser empreendidos a intervalos regulares e pré-determinados hoje, dize a ti mesmo:

Não há nenhuma vontade a não ser a de Deus. Eu busco Sua paz hoje.

Tenta, então, achar o que estás buscando. Um minuto ou dois a cada meia hora, se possível de olhos fechados, seriam bem empregados nisto hoje.

*

COMENTÁRIO:

Nesta quarta-feira, dia 14 de março vamos praticar reconhecer que "não há nenhuma vontade a não ser a de Deus". No ano passado, ao comentar esta lição, falei de dois filmes: Além da Vida, dirigido por Clint Eastwood e  A Partida, ambos capazes, eu disse, de nos proporcionar o equivalente a experiência religiosa, um encontro com o Inominável, que eventualmente chamamos de Deus, esquecendo-nos de que não há um nome que possa, de fato, identificá-lo, uma vez que nomear é limitar. 

Hoje, quero lhes falar do Zen, associando-o às práticas e ao Curso. É claro que só faço isso porque acredito haver uma sintonia entre o que o Zen propõe e o que o Curso propõe. Aliás, da mesma forma que o Curso, o Zen busca ensinar a se olhar para o mundo de modo diferente a partir da prática de um estar-no-mundo que não exclui nada, mas que olha para tudo como parte de uma só unidade, melhor dizendo, como parte de um Nada, no qual tudo existe como potencialidade e depende da vontade de quem vê.


O auto-engano em que incorremos está naquilo a que o Budismo credita a causa do sofrimento humano. Diz a doutrina básica do Budismo que "o homem sofre devido a seu anseio por possuir e manter para sempre coisas que são, em essência, impermanentes. A principal, entre essas coisas, é sua própria pessoa, pois ela é o meio do qual o homem se serve para se isolar do restante da vida, [sua própria pessoa é] seu castelo, no qual ele pode se retirar e de onde pode se defender contra forças exteriores. Ele acredita que essa posição fortificada e isolada é a melhor maneira de alcançar a felicidade, ela o permite lutar contra a mudança, esforçar-se para manter coisas agradáveis para si mesmo, fechar-se ao sofrimento e moldar as circunstâncias da maneira que quiser. Em resumo, esta é sua maneira de resistir à vida".


É preciso lembrar, no entanto, que, para o Budismo, assim como para o Curso, "todas as coisas, inclusive esse castelo, são essencialmente impermanentes e que tão logo o homem tente possuí-las elas escapam; esta frustração do desejo de possuir é a causa imediata do sofrimento. [Buda] foi mais longe do que isso, pois mostrou que a causa fundamental é o delírio [que leva] o homem [a pensar] poder se isolar da vida. Ele alcança um falso isolamento ao se identificar com seu castelo, a pessoa, mas, em razão desse castelo ser impermanente, ele não tem nenhuma realidade duradoura, ele é vazio de qualquer 'natureza própria' e não é mais o Ser do qualquer outro objeto mutável. O que é, então, o Ser? Quando lhe era feita esta pergunta, o Buda permanecia em silêncio, mas ensinou que o homem só descobrirá quando não mais se identificar com a pessoa, quando não mais resistir ao mundo externo de dentro de sua fortaleza, de fato, quando ele der um fim a sua hostilidade e a sua disposição de saquear, contrárias à vida". 


Do mesmo modo que o Curso, "ao contrário desta filosofia de isolamento, o Buda deu clara indicação da unidade de todas as coisas vivas e recomendava seus seguidores a substituírem essa hostilidade [o ataque, o julgamento] pela compaixão divina. A prática deste ensinamento [bem como a prática dos exercícios do Curso] leva o discípulo ao estado de Nirvana [o instante santo, ou o viver no presente, no aqui e agora, para o UCEM], ao fim do sofrimento e à extinção do egoísmo, à condição de eterna bem-aventurança que nenhuma palavra pode descrever".


Resumindo para terminar, como ressaltei no ano passado, ao comentar a ideia para as práticas de hoje, há uma passagem em um dos exercícios que praticamos bem recentemente que diz que, "aonde quer que o plano de Deus para a salvação seja aceito, ele já está realizado". 


As práticas dos exercícios são, pois, o meio pelo qual podemos abandonar esta filosofia do isolamento e praticar a compaixão divina, aprendendo a não resistir à vida e a reconhecer que a única vontade que existe é a Vontade de Deus, que é a mesma nossa. 


Às práticas?


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